quinta-feira, 16 de maio de 2013

Um bate papo sobre o Programa Avaliar para Conhecer


A Secretaria Municipal de Educação Ciência e Tecnologia (Smect) e a Fundação
Municipal de Educação de Niterói (FME) realizaram no último sábado dia (11.05),
o primeiro Encontro de Formação Teórica para os 62 professores selecionados
para participar do Programa Avaliar para Conhecer. O evento aconteceu no auditório Paulo Freire da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O primeiro encontro, realizado em dois dias, teve a duração de 32 horas, sendo 12 presenciais e 20 semi-presenciais. As etapas constaram de: Curso de formação teórica, produção de questões objetivas e a entrega das questões produzidas.

Para saber mais sobre este projeto confira as entrevistas (*) abaixo com a subsecretária municipal de Educação Flávia Monteiro de Barros, a coordenadora do 3º e 4 º ciclos professora Cristina Campos, integrantes da Comissão organizadora do Programa Avaliar para Conhecer e com a professora Marileide Menezes, professora titular de Literatura e Língua Portuguesa.  


* Entrevista com a subsecretária de Educação professora Flávia Monteiro, integrante da Comissão organizadora do Programa Avaliar para Conhecer:

FME: Qual o objetivo maior do Programa Avaliar para Conhecer?
Flávia Monteiro: O maior é conhecer o estado do conhecimento dos alunos da rede municipal. Ele está dividido em várias etapas. Nós lançamos um edital convocando professores que desejam participar do programa. Nesse momento eles participam de
uma formação continuada que está sendo realizada neste sábado (11.05) e termina no dia 18. Nesses dois encontros, eles terão uma capacitação acerca de Teoria de
Resposta ao Item, que é uma teoria que vai orientar a formulação questões.
Esses professores são de diferentes áreas do conhecimento.

A partir dessa orientação que eles estão recebendo, irão elaborar questões que irão compor um banco de questões. E partir desse banco, nós estaremos organizando uma avaliação que será aplicada a todos os alunos, exceto o primeiro ciclo e os da educação infantil. O foco é o ensino fundamental. Nos três primeiros anos de escolaridade, os alunos já estão passando por um processo de avaliação por parte do Ministério da Educação.


* Entrevista com a coordenadora do 3º e 4 º ciclos Cristina Campos, integrante da Comissão organizadora do Programa Avaliar para Conhecer:


FME: Qual o objetivo destas questões para a FME?
CC: É para avaliar o estado de conhecimento dos alunos e depois fazermos um
programa de reforço escolar nas escolas Quando nós tivermos esse retrato, este diagnóstico da rede, nós vamos poder fazer uma ação mais específica para cada aluno, para cada escola. Nós teremos uma avaliação interna com base nos referenciais curriculares da rede. Essa é a primeira edição do projeto e a ideia é que essa avaliação interna ocorra uma vez por ano.

FME: De que maneira vai ser realizada esta avaliação?
CC: Essa avaliação irá abranger todas as disciplinas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Educação Física, Artes, Língua Espanhola, Língua Inglesa. Nós precisamos avaliar, conhecer, para depois tomar providências. A ideia é que o professor participe do processo porque ele conhece a rede, o referencial curricular, as habilidades específicas para a formulação dessas questões.

FME: Como foi o processo de seleção dos professores?
CC: O edital foi aberto a todos os professores que quisessem participar. No
processo seletivo nós adotamos alguns critérios como a formação do professor
(se ele tem mestrado, doutorado, pós-graduação). Procuramos também
valorizar os profissionais que já tinham participado de outros programas
de avaliação. E, por último, fizemos uma entrevista. Cada professor foi
entrevistado por uma equipe da Fundação para sabermos o que ele pensa
e qual a intenção dele em participar do programa. Assim chegamos aos 62
professores de todas as disciplinas.

FME: A prova vai ser aplicada a todos os alunos da rede?
CC: A prova será aplicada a todos os alunos, da rede, a partir do terceiro ano de
escolaridade regular, ou seja, para cerca de 11 mil alunos. O primeiro e segundo
ciclos não serão avaliados, pois já participam da Provinha Brasil. Também não foram incluídos nessa primeira edição, os alunos do programa de Educação de Jovens e Adultos. Nós pretendemos aplicar a prova em uma semana e depois teremos um prazo para análise dos resultados. Um outro aspecto importante é que não temos a intenção de fazer um ranqueamento das escolas na rede municipal de Niterói. O que nós queremos é apresentar o retrato do estado do conhecimento dos alunos e dar visibilidade a esses resultados. Cada professor, de todas as disciplinas, receberá um relatório que vai permitir o desenvolvimento de ações específicas na sala de aula. Num primeiro momento estamos avaliando os alunos, mas isso se reflete também na nossa prática pedagógica, naquilo que precisamos rever. Uma avaliação tem uma função diagnóstica para repensar as ações do professor em sala de aula.

* Entrevista com a professora Marileide Menezes palestrante do tema: “Como elaborar questões objetivas”.

FME: Que estratégia a senhora costuma usar para falar de um tema tão complexo?
Marileide Menezes: Na realidade, o que eu tenho que trabalhar é com a edição técnica de elaboração de questões de múltipla escolha. Como se elabora uma questão sem ter pegadinha, de maneira clara, objetiva e contextualizada. Esse deve ser o nosso
objetivo. Mas para falar disso eu preciso saber para que eu avalio, como eu
avalio, como o professor se avalia. O objetivo da palestra não é avaliação pela
avaliação mas é uma avaliação de como eu vou me reestruturar, como eu vou
escolher estratégias de elaboração de questões.

FME: Qual a relação dos professores com os sistemas de avaliação?
MM: Eles têm muita resistência aos sistemas de avaliação. Ainda se vê avaliação como algo estanque, e não processual. Até porque o sistema não permite que seja processual. Nós temos técnicas, ordens, direcionamentos que nos levam a uma avaliação final. O professor tem resistência, ele tem medo dessa avaliação processual. Isso acontece com a maioria, mas existe uma minoria que quer o novo. Um professor que não se auto-avalia vai ser resistente a essa mudança. A avaliação no Brasil ainda é muito tradicional e muito elitizante.

FME: A falta de preparo do professor pode comprometer o processo de avaliação
MM: Pode ficar comprometido e muito. Se eu não me avalio, eu não sei como avaliar. Por exemplo, se eu não me vejo de uma forma bem ampla, eu não consigo avaliar meu processo de dar aula, como vou avaliar meus alunos? O mundo mudou e o professor ainda quer avaliar da mesma forma. Aí ele compromete a avaliação do aluno. Agora em relação ao Programa Avaliar para Conhecer, eu não acredito que haja comprometimento. Por que a estrutura que está sendo dada pela Prefeitura, pelas pessoas que estão coordenando, isso permite um direcionamento muito focado.

O professor que está aqui é o que quis estar aqui. Só o fato de estar aqui demonstra que ele quer se auto-avaliar e tem condições de avaliar bem. Agora, a nível nacional, nós temos uma resistência muito grande. De um modo geral, o professor não aceita
ser avaliado Eu vejo isso na escola onde eu trabalho. ele diz: “Eu não sou
assim não. O aluno não sabe me avaliar.” O professor está sempre muito
escorregadio para os processos de avaliação. Diante de um processo como o
Avaliar para Conhecer, por exemplo, é normal que alguns possam pensar: “A
prefeitura quer fazer uma avaliação dos alunos, tipo a Prova Brasil. Se ela quer
fazer, ela quer me punir. Ela quer descobrir se eu estou dando aula direito.”
Nós precisamos mudar isso. Eu tenho que encarar a avaliação como um feed-
back do meu trabalho, a fim de que eu possa fazer as mudanças necessárias.

FME: Como lidar com resultados inesperados de uma avaliação?
MM: Acho que quando o professor não se sente preparado, ele pode prejudicar todo
o processo e, nesse caso, o melhor que ele faz é sair desse processo. E isso é
uma prova inconteste que ele não sabe se auto-avaliar.

FME: Qual a sua expectativa em relação ao Programa?
MM: Nesse nosso encontro procurei fazer um tipo de provocação com o objetivo
de se fazer algumas mudanças. Mudar de alguma forma, esse sistema de
aprovação automática, que não é aquilo que nós queremos para os nossos
alunos. O objetivo maior deve ser buscar uma melhor qualidade do aluno
da rede municipal de Niterói. Isso significa ter um olhar diferenciado para os
alunos. Partindo do contexto deles, muita coisa pode ser feita. E quando isso
acontecer nós também estaremos melhorando a qualidade do professor. A
expectativa que eu tenho é muito positiva. É isso que me motiva a participar de
encontros como este.

FME: Qual o melhor método: Questões objetivas ou subjetivas? É possível juntar os dois modelos?
MM: Sou uma daquelas que defendem os dois modelos. Agora eu acredito muito mais na prova subjetiva, numa prova discursiva para que possamos formar pensadores, pessoas que refletem o mundo. Por mais que eu elabore uma prova objetiva, ela não terá esse aspecto de subjetividade. Apenas estarei levando o meu aluno a dar uma resposta. O ideal é que juntemos as duas maneiras. Se eu quero que o meu aluno pense, a objetividade pode mecanizar pensamentos. Ao optarmos por uma prova objetiva, é preciso que ela seja muito bem elaborada. Devemos evitar sempre a mecanização da resposta. Esse tipo de coisa hierarquiza a educação, na medida em que elitiza o pensamento do professor.

FME: Elaborar uma questão é tão difícil como avaliar resultados?
MM: Quando você elabora uma questão, com certeza, você tem uma expectativa
e nem sempre essa expectativa é o que o avaliado tem para apresentar. Isso
acontece porque nem sempre eu sei o contexto do aluno. Posso contextualizar
numa realidade que ele não viveu. Se eu não estou preparado, a tendência
que a minha grade de resultados seja muito ruim. Eu nunca penso numa forma
de avaliação para definir o que o meu aluno é. Eu vejo a avaliação como uma
forma de reestruturar o que eu sou, para que ele seja melhor. Que estratégias,
que planos eu vou usar para alcançar esse objetivo. Isso vale tanto para o meu
feed-back quanto para o meu aluno.

FME: Que experiência profissional a senhora gostaria de citar?
MM: Tem um projeto que eu gostaria chamado TECENDO TEXTOS. É um projeto de redação processual, não tem o formato de um concurso. É todo um processo de redação, onde todos os alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino médio participam lendo e produzindo textos. O que me anima, além de ser a responsável pela organização, são os resultados que ele nos proporciona. É uma experiência belíssima que, em minha opinião, deveria ser seguida por outras instituições.