A
Secretaria Municipal de Educação Ciência e Tecnologia (Smect) e a Fundação
Municipal de Educação de Niterói
(FME) realizaram no último sábado dia (11.05),
o primeiro Encontro de Formação
Teórica para os 62 professores selecionados
para participar do Programa
Avaliar para Conhecer. O evento aconteceu no auditório Paulo Freire da
Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O primeiro encontro, realizado em
dois dias, teve a duração de 32 horas, sendo 12 presenciais e 20
semi-presenciais. As etapas constaram de: Curso de formação teórica, produção
de questões objetivas e a entrega das questões produzidas.
Para saber mais sobre este projeto
confira as entrevistas (*) abaixo com a subsecretária municipal de Educação
Flávia Monteiro de Barros, a coordenadora do 3º e 4 º ciclos professora
Cristina Campos, integrantes da Comissão organizadora do Programa Avaliar para
Conhecer e com a professora Marileide Menezes, professora titular de Literatura
e Língua Portuguesa.
* Entrevista com a
subsecretária de Educação professora Flávia Monteiro, integrante da Comissão
organizadora do Programa Avaliar para Conhecer:
FME: Qual o objetivo maior do Programa
Avaliar para Conhecer?
Flávia Monteiro: O
maior é conhecer o estado do conhecimento dos alunos da rede municipal. Ele
está dividido em várias etapas. Nós lançamos um edital convocando professores
que desejam participar do programa. Nesse momento eles participam de
uma formação continuada que está
sendo realizada neste sábado (11.05) e termina no dia 18. Nesses dois
encontros, eles terão uma capacitação acerca de Teoria de
Resposta ao Item, que é uma
teoria que vai orientar a formulação questões.
Esses professores são de
diferentes áreas do conhecimento.
A partir dessa orientação que
eles estão recebendo, irão elaborar questões que irão compor um banco de
questões. E partir desse banco, nós estaremos organizando uma avaliação que
será aplicada a todos os alunos, exceto o primeiro ciclo e os da educação
infantil. O foco é o ensino fundamental. Nos três primeiros anos de
escolaridade, os alunos já estão passando por um processo de avaliação por
parte do Ministério da Educação.
* Entrevista com a coordenadora
do 3º e 4 º ciclos Cristina Campos, integrante da Comissão organizadora do
Programa Avaliar para Conhecer:
FME: Qual o objetivo destas
questões para a FME?
CC: É para avaliar o estado de conhecimento dos alunos e
depois fazermos um
programa de reforço escolar nas
escolas Quando nós tivermos esse retrato, este diagnóstico da rede, nós vamos
poder fazer uma ação mais específica para cada aluno, para cada escola. Nós
teremos uma avaliação interna com base nos referenciais curriculares da rede. Essa
é a primeira edição do projeto e a ideia é que essa avaliação interna ocorra
uma vez por ano.
FME: De que maneira vai ser
realizada esta avaliação?
CC: Essa avaliação irá abranger todas as disciplinas: Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Educação Física, Artes,
Língua Espanhola, Língua Inglesa. Nós precisamos avaliar, conhecer, para depois
tomar providências. A ideia é que o professor participe do processo porque ele
conhece a rede, o referencial curricular, as habilidades específicas para a
formulação dessas questões.
FME: Como foi o processo de
seleção dos professores?
CC: O edital foi aberto a todos os professores que quisessem
participar. No
processo seletivo nós adotamos
alguns critérios como a formação do professor
(se ele tem mestrado, doutorado,
pós-graduação). Procuramos também
valorizar os profissionais que já
tinham participado de outros programas
de avaliação. E, por último,
fizemos uma entrevista. Cada professor foi
entrevistado por uma equipe da
Fundação para sabermos o que ele pensa
e qual a intenção dele em
participar do programa. Assim chegamos aos 62
professores de todas as
disciplinas.
FME: A prova vai ser aplicada
a todos os alunos da rede?
CC: A prova será aplicada a todos os alunos, da rede, a
partir do terceiro ano de
escolaridade regular, ou seja,
para cerca de 11 mil alunos. O primeiro e segundo
ciclos não serão avaliados, pois
já participam da Provinha Brasil. Também não foram incluídos nessa primeira
edição, os alunos do programa de Educação de Jovens e Adultos. Nós pretendemos
aplicar a prova em uma semana e depois teremos um prazo para análise dos
resultados. Um outro aspecto importante é que não temos a intenção de fazer um
ranqueamento das escolas na rede municipal de Niterói. O que nós queremos é
apresentar o retrato do estado do conhecimento dos alunos e dar visibilidade a
esses resultados. Cada professor, de todas as disciplinas, receberá um
relatório que vai permitir o desenvolvimento de ações específicas na sala de
aula. Num primeiro momento estamos avaliando os alunos, mas isso se reflete
também na nossa prática pedagógica, naquilo que precisamos rever. Uma avaliação
tem uma função diagnóstica para repensar as ações do professor em sala de aula.
* Entrevista com a professora
Marileide Menezes palestrante do tema: “Como elaborar questões objetivas”.
FME: Que estratégia a senhora
costuma usar para falar de um tema tão complexo?
Marileide Menezes: Na realidade, o que eu tenho que trabalhar é com a edição
técnica de elaboração de questões de múltipla escolha. Como se elabora uma
questão sem ter pegadinha, de maneira clara, objetiva e contextualizada. Esse
deve ser o nosso
objetivo. Mas para falar disso eu
preciso saber para que eu avalio, como eu
avalio, como o professor se
avalia. O objetivo da palestra não é avaliação pela
avaliação mas é uma avaliação de
como eu vou me reestruturar, como eu vou
escolher estratégias de elaboração
de questões.
FME: Qual a relação dos
professores com os sistemas de avaliação?
MM: Eles têm muita resistência aos sistemas de avaliação.
Ainda se vê avaliação como algo estanque, e não processual. Até porque o
sistema não permite que seja processual. Nós temos técnicas, ordens,
direcionamentos que nos levam a uma avaliação final. O professor tem
resistência, ele tem medo dessa avaliação processual. Isso acontece com a
maioria, mas existe uma minoria que quer o novo. Um professor que não se
auto-avalia vai ser resistente a essa mudança. A avaliação no Brasil ainda é
muito tradicional e muito elitizante.
FME: A falta de preparo do
professor pode comprometer o processo de avaliação
MM: Pode ficar comprometido e muito. Se eu não me avalio, eu
não sei como avaliar. Por exemplo, se eu não me vejo de uma forma bem ampla, eu
não consigo avaliar meu processo de dar aula, como vou avaliar meus alunos? O
mundo mudou e o professor ainda quer avaliar da mesma forma. Aí ele compromete
a avaliação do aluno. Agora em relação ao Programa Avaliar para Conhecer, eu
não acredito que haja comprometimento. Por que a estrutura que está sendo dada
pela Prefeitura, pelas pessoas que estão coordenando, isso permite um
direcionamento muito focado.
O professor que está aqui é o que
quis estar aqui. Só o fato de estar aqui demonstra que ele quer se auto-avaliar
e tem condições de avaliar bem. Agora, a nível nacional, nós temos uma
resistência muito grande. De um modo geral, o professor não aceita
ser avaliado Eu vejo isso na
escola onde eu trabalho. ele diz: “Eu não sou
assim não. O aluno não sabe me
avaliar.” O professor está sempre muito
escorregadio para os processos de
avaliação. Diante de um processo como o
Avaliar para Conhecer, por
exemplo, é normal que alguns possam pensar: “A
prefeitura quer fazer uma
avaliação dos alunos, tipo a Prova Brasil. Se ela quer
fazer, ela quer me punir. Ela
quer descobrir se eu estou dando aula direito.”
Nós precisamos mudar isso. Eu
tenho que encarar a avaliação como um feed-
back do meu trabalho, a fim de
que eu possa fazer as mudanças necessárias.
FME: Como lidar com resultados
inesperados de uma avaliação?
MM: Acho
que quando o professor não se sente preparado, ele pode prejudicar todo
o processo e, nesse caso, o
melhor que ele faz é sair desse processo. E isso é
uma prova inconteste que ele não
sabe se auto-avaliar.
FME: Qual a sua expectativa em
relação ao Programa?
MM: Nesse nosso encontro procurei fazer um tipo de provocação
com o objetivo
de se fazer algumas mudanças.
Mudar de alguma forma, esse sistema de
aprovação automática, que não é
aquilo que nós queremos para os nossos
alunos. O objetivo maior deve ser
buscar uma melhor qualidade do aluno
da rede municipal de Niterói.
Isso significa ter um olhar diferenciado para os
alunos. Partindo do contexto
deles, muita coisa pode ser feita. E quando isso
acontecer nós também estaremos
melhorando a qualidade do professor. A
expectativa que eu tenho é muito
positiva. É isso que me motiva a participar de
encontros como este.
FME: Qual o melhor método:
Questões objetivas ou subjetivas? É possível juntar os dois modelos?
MM: Sou
uma daquelas que defendem os dois modelos. Agora eu acredito muito mais na
prova subjetiva, numa prova discursiva para que possamos formar pensadores,
pessoas que refletem o mundo. Por mais que eu elabore uma prova objetiva, ela
não terá esse aspecto de subjetividade. Apenas estarei levando o meu aluno a
dar uma resposta. O ideal é que juntemos as duas maneiras. Se eu quero que o
meu aluno pense, a objetividade pode mecanizar pensamentos. Ao optarmos por uma
prova objetiva, é preciso que ela seja muito bem elaborada. Devemos evitar
sempre a mecanização da resposta. Esse tipo de coisa hierarquiza a educação, na
medida em que elitiza o pensamento do professor.
FME: Elaborar uma questão é
tão difícil como avaliar resultados?
MM: Quando
você elabora uma questão, com certeza, você tem uma expectativa
e nem sempre essa expectativa é o
que o avaliado tem para apresentar. Isso
acontece porque nem sempre eu sei
o contexto do aluno. Posso contextualizar
numa realidade que ele não viveu.
Se eu não estou preparado, a tendência
que a minha grade de resultados
seja muito ruim. Eu nunca penso numa forma
de avaliação para definir o que o
meu aluno é. Eu vejo a avaliação como uma
forma de reestruturar o que eu
sou, para que ele seja melhor. Que estratégias,
que planos eu vou usar para
alcançar esse objetivo. Isso vale tanto para o meu
feed-back quanto para o meu
aluno.
FME: Que experiência
profissional a senhora gostaria de citar?
MM: Tem um projeto que eu gostaria chamado TECENDO TEXTOS. É
um projeto de redação processual, não tem o formato de um concurso. É todo um
processo de redação, onde todos os alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino
médio participam lendo e produzindo textos. O que me anima, além de ser a
responsável pela organização, são os resultados que ele nos proporciona. É uma
experiência belíssima que, em minha opinião, deveria ser seguida por outras
instituições.